A batalha do batom pouco conhecida na segunda guerra mundial
BBC – Durante a Segunda Guerra Mundial, o batom tornou-se numa arma de guerra para milhões de mulheres britânicas.
Maquilhagem e moda são aspectos do conflito pouco mencionados, mas desempenharam um papel político e estratégico fundamental neste capítulo da história do Reino Unido.
A política permeou a moda ou talvez a moda permeou a política numa era de austeridade. Enquanto os alemães invadiam Paris em uniformes de grife impecáveis, as mulheres britânicas esforçavam-se para ter uma boa aparência como forma de mostrar resistência ao inimigo.
“A beleza é o seu dever!” (“Beauty is your duty!”) rezava o slogan na revista Vogue. Nos piores momentos, até o último recurso era contemplado: beterraba como batom, cera de bota como sombra para os olhos e até molho de rosbife para pintar uma veia na parte de trás das pernas para fazer os nazis acreditarem que até tinham meias de nylon.
Mulheres comandavam o batalhão que usava a beleza contra invasores e como arma contra os inimigos. Elas sabiam que precisavam estar preparadas mesmo para o caso de serem tiradas fotos delas que mais tarde acabariam nas mãos dos alemães. Elas foram, de alguma forma, as responsáveis por dar a imagem do país no exterior.
Sem batom há motins
No final da década de 1930, moda e beleza deixaram de ser consideradas algo superficial a uma questão política.
Nos primeiros estágios da guerra, os alimentos foram restringidos como resultado de uma política de racionamento e só em junho de 1941 é que roupas, sapatos e tecidos também começaram a ser racionados.
As mulheres podiam ter em média dois batons por ano. Num ponto durante a guerra, o governo considerou reduzir essas rações, mas rapidamente percebeu que era uma decisão terrível.
O descontentamento entre as mulheres era tão grande que, de acordo com relatórios do governo, podiam desencadear-se distúrbios. O executivo foi obrigado não apenas a retificar a medida, mas a aumentar o número de cupons para a compra de batom.
“A maquilhagem era vista como algo que oferecia às mulheres a liberdade de serem quem elas queriam e permitia que mantivessem a sua feminilidade”, disse Emmanuelle, professora da London School of Fashion, London College of Fashion, à BBC World.
Manter a sanidade
Ao longo do tempo, as mulheres foram incentivadas a entrar no mercado de trabalho para responder à falta de mão de obra masculina. Claro, elas deveriam fazer isso sem negligenciar a beleza.
A ideia por trás de tudo era elevar o moral interno, demonstrar resistência aos inimigos e deixar claro que o espírito de luta ainda estava vivo, apesar dos tempos difíceis.
“Para comprar roupas havia certas regras. As peças eram adquiridas apenas com a mistura de uma certa quantidade de cupons e dinheiro”, diz Dirix.
As mulheres acharam muito mais conveniente fazer os seus próprios vestidos, pois precisavam de menos cupons para os tecidos. As máquinas de costura tornaram-se populares então.

Em 1942, teve início a campanha “Make-Do and Mend”, que consistia basicamente em reaproveitar, consertar as peças que já eram de sua propriedade e sobreviver com o que estava disponível.
Nesse mesmo ano, o governo deu cupons chamados “Look to your looks” para comprar base e pó de maquilhagem e assim elevar a moral das trabalhadoras.
O racionamento de roupas e maquilhagem no Reino Unido terminou em 1949.
“A maquilhagem e a beleza permitiram que as mulheres tivessem um espaço pessoal de fuga e satisfação que, em tempos de crise, ajudava a manter o moral e a sanidade. A experiência mostra que a vida não para porque há uma guerra, que nosso quotidiano é mantido”, disse Dirix.
“Também nos conta como a história foi contada. Questões femininas raramente são abordadas durante a guerra porque são vistas como uma questão frívola num ambiente marcado pela destruição e extermínio, e pode ser, mas o facto é que para essas mulheres não o foi, porque as ajudou a enfrentar as suas novas vidas e papéis”, acrescentou.
Às vezes, a moda mostra a resiliência do espírito humano diante da adversidade.