“Fast fashion” transformou a moda num negócio insustentável
Comprar mais, usar menos. É a fórmula de consumo acelerado que está na moda entre uma das indústrias mais poluentes do planeta.
A indústria da moda é uma das indústrias com maior alcance internacional, principalmente após a consolidação da abertura económica nos primeiros anos do século XXI. Esse processo possibilitou a importação de bens e serviços, principalmente do oriente até ao ocidente.
Actualmente, roupas e tecidos representam 5% do comércio mundial de produtos manufacturados, sendo a quarta indústria mais representativa.
Este processo de expansão da indústria e os seus grandes volumes comercializados, combinados com a necessidade da indústria de inovar e apresentar as últimas tendências da moda, resultaram na consolidação do conceito de “fast fashion” ou “moda rápida”.
“Fast fashion”
A moda rápida é entendida como o fenómeno pelo qual são introduzidas colecções de roupas que seguem as últimas tendências da moda e foram projectadas e fabricadas de maneira acelerada e a baixo custo. Assim, a indústria oferece ao consumidor a possibilidade de comprar peças inovadoras a preços acessíveis e continuamente, com cerca de 50 colecções por ano – além das tradicionais colecções anuais de Primavera/Verão e Outono/Inverno.
Com a proliferação da cultura pop e das redes sociais, um culto ao consumismo foi criado, descrito por Kelly Drennan, fundadora e directora executiva da ONG canadense Fashion Takes Action, da seguinte forma: “Ninguém quer ser visto ou fotografado com as mesmas peças de vestuário e, como essa quantidade de peças de são fabricadas a um preço muito baixo, é mais conveniente que os consumidores tenham o seu guarda-roupa”.
H&M, o grupo Inditex com a sua marca estrela Zara; Top Shop, Primark, Mango, Forever 21 e Uniqlo são algumas das empresas líderes da filosofia fast fashion. Por meio de estudos comportamentais e de mercado, campanhas publicitárias e estratégias de produção, distribuição e marketing, essas empresas conseguiram o objectivo de conquistar o público e transformar a moda num bem de consumo para as massas.
A expansão do fast fashion em direcção à conquista do mundo é vertiginosa; já não se trata mais da oferta de peças, mas de uma forma de consumo cada vez mais acentuada, na qual as roupas e as tendências mudam à mesma velocidade com a que mudam os gostos dos consumidores.
Esta tendência do consumidor fez com que o uso médio de uma nova peça de roupa fosse apenas de sete vezes antes de descartada e que, nos últimos 20 anos, houvesse um aumento de 400% no consumo de roupa no planeta.
Além disso, existem os impactos ecológicos típicos da indústria, como o alto consumo de recursos naturais e produtos químicos assim como a geração de dumping e emissões. A indústria da moda está entre as mais poluentes do mundo e, nas palavras da estilista Stella McCartney, tornou-se “incrivelmente inútil e prejudicial ao meio ambiente”.
Os relatórios
Segundo o World Resources Institute -WRI-, a produção de uma camisa de algodão consome 2700 litros de água e a indústria têxtil gera 20% da contaminação industrial da água. Da mesma forma, estima-se que na produção de uma camisa sejam emitidos entre 2,1 e 5,5 Kg de CO2, sendo as peças de poliéster as que geram as maiores emissões – cerca de 706 biliões de Kg de CO2 em 2015.
No relatório Pulse of the Fashion Industry do Global Fashion Agenda e Boston Consulting Group, estima-se que, de acordo com as tendências actuais de consumo e as perspectivas de crescimento, o consumo de água, as emissões de CO2 e a geração de resíduos aumentem entre 50 e 63% até 2030.
Também surgem preocupações sociais e trabalhistas, como o abuso da mão de obra. O documentário “The True Cost”, que explora os prejuízos da fast fashion, revela que existem no mundo cerca de 40 milhões de trabalhadores têxteis, dos quais 85% são mulheres, muitos delas menores de idade, ganhando dois dólares por dia e sob condições de trabalho desumanas.
“Hoje estamos a fabricar mais roupas, consumindo mais, usando mais recursos e pagando menos do que em qualquer outro momento”, diz Andrew Morgan, director do documentário. Nesse cenário, o que a indústria pode fazer para transformar o seu modelo de negócios com mais práticas?
Podemos falar sobre moda sustentável ou estaríamos-nos referindo a uma utopia?