O corte bob representa a liberdade feminina há décadas. Descobre a história fascinante deste estilo que irradia força e coragem.
Pode ser uma forte tendência actual, mas o bob tem uma longa história que, além de o identificar como um estilo clássico, também o tornou num ícone do feminismo.
O bob, desde a sua versão mais curta – que chega logo abaixo das orelhas – até ao bob longo – que chega à altura dos ombros – tem sido associado a um corte de cabelo que desafia as regras desde o início do século XX e até antes, sendo Joana d’Arc uma das primeiras mulheres a usá-lo como um estandarte de liberdade.
E embora os tempos tenham mudado e talvez mais de um século se tenha passado desde o surgimento desse estilo sofisticado, o cabelo comprido ainda é considerado o padrão de beleza no século XXI.
Não é por acaso que mulheres que deixaram a sua marca na história da moda, como Clara Bow, Gabrielle Chanel e Anna Wintour, optaram pelo mesmo corte de cabelo. É que este não só irradia confiança, elegância e individualidade, como também mostra a disposição da mulher em romper com as tradições e ser fiel ao seu próprio estilo.
A seguir, revisaremos alguns dos momentos mais importantes do corte bob na história do feminismo.
A evolução do corte ‘bob’ através da história
O corte bob na década de 1920
No final da Primeira Guerra Mundial, chegou um período de liberalismo social em que o papel das mulheres mudou radicalmente. Foi nessa época que surgiram as melindrosas, um grupo de mulheres que não só se libertou da opressão machista, mas também dos espartilhos, roupas justas e cabelos compridos, adoptando o bob como o corte de cabelo por excelência.
Clara Bow e Louise Brooks foram as pioneiras na apropriação desse visual. Naquela época, era tão pouco convencional que as mulheres tinham que ir a cabeleireiros especializados em cortes masculinos, pois quem se dedicava ao corte de cabelos femininos não possuía as ferramentas ou o conhecimento para o fazer.
Nessa década, o bob era desejado pelas liberais de todas as idades e classes sociais, mas também era reprovado pela sociedade conservadora, que o considerava um estilo típico dos rebeldes que bebiam álcool, usavam maquilhagem e saias curtas. O corte bob causou tanta polémica na época que foi proibido nas escolas, demonizado pela igreja e havia até quem afirmasse que a mulher que cortava o cabelo era mais propensa a problemas de saúde. Consegues imaginar?
O corte bob na década de 1960
Os anos passaram-se e, com eles, o bob foi perdendo popularidade. Não foi até 1960 que voltou como um estilo revolucionário novamente. A modelo Twiggy e a criadora da minissaia, Mary Quant, foram as duas responsáveis por voltar a impor este corte de cabelo, que ganhou uma silhueta muito mais angular e volumosa.
O triunfo do bob nos anos 60 também se deve ao trabalho do cabeleireiro de Hollywood, Vidal Sasoon, que criou o swinging bob, uma espécie de bob assimétrico e reto, com ou sem franja, que todas as celebridades queriam usar naqueles anos.
O corte bob na década de 1970
A década de 70 foi um divisor de águas para este estilo, pois deixou de ser considerado um corte pouco convencional, para se tornar um clássico muito comum entre as mulheres de todas as idades. Naquela época, o bob fundiu-se com outros estilos para o modernizar. Entre as suas versões mais populares está o pageboy, um bob com ângulos arredondados e franjas – normalmente curto e reto – que já não era mais exclusivo dos cabelos lisos, mas também usado com caracóis e ondas largas.
Um exemplo claro dessa tendência é Kate Jackson, que interpretou Sabrina Duncan na aclamada série Charlie’s Angels.
O corte bob na década de 1980
Depois dos anos 70, o bob teve um forte ressurgimento na década seguinte graças a supermodelos como Linda Evangelista e Amber Valleta.
Em 1988, a jornalista Jody Shields publicou um artigo intitulado Call me garçon (chama-me rapaz) na revista Vogue, no qual explora a história do bob como símbolo do feminismo. De acordo com a teoria de Shields, esse corte de cabelo volta sempre que há uma mudança radical na moda.
O corte bob na década de 1990
Os grandes ícones da moda dos anos 90, como Drew Barrymore, Jennifer Aniston e Winona Ryder, tinham uma coisa em comum: usavam o corte bob, independentemente dos seus cabelos serem lisos ou ondulados. Mas provavelmente um dos momentos mais icónicos do bob na era do grunge, foi quando Uma Thurman interpretou Mia Wallace no lendário filme Pulp Fiction de Quentin Tarantino. Outro exemplo de que um simples corte de cabelo é capaz de dar força à aparência de uma mulher.
O corte bob na década de 2000
Na segunda metade da década, o bob voltou mais dramático do que nunca. Usava-se muito angular, com uma divisão pronunciada para o lado e côncava, com as pontas da frente significativamente mais longas do que o resto do cabelo. A imagem de Rihanna cantando Umbrella com esse corte ficará para sempre gravada na história do pop. Victoria Beckham foi outra das suas devotas fiéis e, até hoje, é o estilo com o qual ela é mais recordada.
O corte bob na década de 2010
Nos últimos anos, o bob foi reinventado inúmeras vezes. E, embora o cabelo comprido continue a triunfar, o bob ainda é considerado uma ferramenta fortalecedora para as mulheres mais independentes.
Hoje em dia, o bob usa-se numa infinidade de texturas diferentes, embora uma das favoritas seja o que conhecemos como effortless cool; basicamente, consiste em parecer um pouco desgrenhado, embora tenha demorado horas para conseguir esse efeito.
Portanto, da próxima vez que fores ao cabeleireiro e pedires um corte ao teu estilista, pensa em todas aquelas mulheres que tiveram que quebrar as regras e desafiar a sociedade a fazer o mesmo.