Artigo de opinião | Mariana Martins – Psicóloga
Disse em tempos William Shakespeare: Ó beleza! Onde está tua verdade?
Acredito que já naquele tempo a beleza fosse importante, discutível, tendo como prova disso a monarquia e a vaidade dos elementos da corte.
Hoje em dia recebo contactos de leitoras que me colocam inúmeras situações quotidianas das suas vidas. Cito como exemplo duas delas, relacionadas à aparência: “Sou uma mulher bonita, chamo à atenção onde que que vá, porém, acho que tenho algum problema nos meus relacionamentos…”. E assim prossegue, relatando o facto de, devido à sua beleza, se sentir usada. Também existe o oposto da situação: “Sou advogada e, quando estava a fazer um estágio num escritório de advogados, fui apelidada de gorda. Disseram que, por eu ser assim, não estava a gerar lucro para o escritório e o advogado disse-me que, por ter pena de mim, iria ficar comigo, mas eu teria que frequentar um ginásio e, se faltasse um dia aos exercícios, por qualquer motivo que fosse, ele mandaria embora reduzindo ainda o meu salário pela metade…”.
Hoje o que conta é a aparência. O fascínio pela imagem é um cartão de visita. São muitas as ofertas para a mulher parecer diferente, mais bonita, mais desejável e ilusoriamente perfeita: muda a cor dos olhos, usa cosméticos, tatuagem, aumenta ou diminui partes do corpo, como seios e lábios.
Isso abre portas para o mercado de trabalho e também para inúmeras situações. São tratadas com mais benevolência pelos demais, especialmente as mulheres que possuem aparência de modelo. Estamos a falar sobre beleza real, aquele tipo de carisma irresistível que faz com que estas pessoas estejam sempre no topo do mundo, com glamour. Falo de brilho nos olhos, expressão que ouvi da boca de um paciente quando relatava os requisitos para uma vaga na sua empresa: “uma rapariga, tem que ser bonita, ter muito boa aparência, brilho nos olhos, pois isso aumenta as vendas”.

Certamente conhecemos alguém assim. Pode ser uma amiga próxima ou basta pensarmos, por exemplo, na Angelina Jolie, que possui esse atributo, mulher que tira o fôlego das outras quando chega. Divertida, inteligente, esperta e sexy.
Mas esse charme todo pode ser adquirido ao longo do tempo, pois além de abrir portas, é o desejo de muitas pessoas. Tudo começa com a definição sobre o que é ser atraente. Obviamente, boa saúde e certa beleza, mas, além disso, não basta somente a beleza, é necessária competência. Claro que a beleza abre portas, mas ela tem de estar aliada à capacidade para se manter no posto de trabalho, ou no que quer que seja. Depois, é preciso provar que possui capacidade. Até nas relações sociais, todos querem ser amigos daquela pessoa linda.
Por outro lado, também há as mulheres que não são consideradas “mulheres para casar”, com o medo que os homens têm de serem traídos. Já me cansei de ouvir essa questão feita por amigos próximos. Por isso, tanta mulher bonita acaba por se envolver com homens sedutores e ousados que, além disso, não oferecem mais nada.
A beleza não se sustenta sozinha, mas abre portas. Porém, gera ciúmes e as mulheres bonitas têm de se empenhar num esforço maior para comprovar as suas competências, trilhar os seus caminhos, pois o preconceito contra mulheres bonitas ainda existe. As pessoas nem sempre conseguem ver que beleza não exclui competência.