ESTILISTAS – Foi no Gymnase Trévise, espaço integrado numa centenária associação parisiense, que se fez história em português. O promissor talento iniciou o seu percurso no Bloom em 2010 e, volvidos sete anos, consegue gravar o seu nome na cidade que é o centro nevrálgico da moda mundial.
Em duas temporadas consecutivas, Hugo Costa apresenta-se na Semana de Moda Masculina de Paris. A estreia concretizou-se em junho de 2016 e, logo a partir dessa altura, as suas propostas para o verão 2017, inspiradas na era do Japão feudal e no rígido código de conduta dos samurais – o bushido – foram reconhecidas pela crítica internacional (Now Fashion, Modem Online, Slash It Mag, Models.com, Fashion Spider, ou Velvet Magazine). Um momento assinalável na jovem carreira do designer de São João da Madeira, que lhe proporcionou, a subida recente de mais um degrau na sua escalada de afirmação internacional: o regresso à Semana de Moda Homem da cidade luz no primeiro mês de 2017, com o Portugal Fashion. Uma realidade possível através do projeto Bloom, pilar fundamental na estratégia do projeto de moda nacional, que tem primado por divulgar e valorizar os emergentes criadores portugueses.
A determinante escola Bloom
Ora, como o próprio designer admite ao programa Imagens de Marca, da SIC Notícias, numa recente reportagem a propósito da sua integração no calendário oficial de apresentações da Paris Fashion Week Menswear, muito provavelmente, se não fosse o facto de ter integrado o projeto Bloom “não estaríamos aqui a falar hoje”.
De modo a contextualizarmos um pouco melhor esta afirmação, será pertinente fazermos uma breve viagem no tempo. Estávamos em 2010 “quando o Portugal Fashion lançou a marca Bloom, com o intuito de apresentar novos nomes no panorama da moda nacional. E, desde então, o projeto já serviu de rampa de lançamento a mais de 40 jovens designers”, explica ao Imagens de Marca, o diretor de comunicação do Portugal Fashion, Rafael Alves Rocha.
Sem dúvida, Hugo Costa é um dos exemplos paradigmáticos do crescimento e ascensão proporcionados pela escola Bloom. Começou por apresentar as suas coleções na plataforma para jovens criadores em 2010. Em março de 2014 deu o salto para a passerelle principal onde, até outubro de 2015, dividiu os desfiles com outros criadores. Na 38ª edição do Portugal Fashion, em março de 2016, estreou-se com um desfile individual no line-up da iniciativa. Foi também nesse ano que, a um ritmo mais regular, marcou presença nos showrooms da London Collections Men e da Paris Fashion Week Mensewear, o que lhe permitiu, a um nível mais comercial, conhecer as dinâmicas de cada um destes mercados. “O Bloom apareceu no momento certo, com as pessoas certas, possibilitando-me um crescimento criativo, e ajudando-me a perceber como funciona o negócio”, afirma Hugo Costa, garantido que o acompanhamento da plataforma foi fundamental no “seu processo de formação e de construção da marca”.
Mas há outros nomes a considerar na plataforma Bloom, que deram o salto para a passerelle principal e que já principiaram a promoção das respetivas marcas no exterior, integrados no roteiro internacional do Portugal Fashion, ou por via do projeto complementar Next Step. Carla Pontes tem participado nas últimas edições da London Fashion Week em formato de showroom, e já desfilou no Matadero de Madrid, em 2012, no âmbito do Young Designers Fashion Show (nesse mesmo certame, desfilaram ainda as propostas de Daniela Barros, Estelita Mendonça e Hugo Costa). Daniela Barros, Estelita Mendonça e Susana Bettencourt pisaram a passerelle da Vienna Fashion Week, em 2013. Estelita Mendonça recebeu, em fevereiro de 2016, uma menção honrosa do International Fashion Showcase (exposição comissariada pelo British Fashion Council, no âmbito da London Fashion Week), tem integrado nas duas últimas temporadas a comitiva do Next Step nos showrooms das Semanas de Moda Homem de Londres e Paris e, mais recentemente, estreou-se na Altaroma, num desfile em que revelou, pela primeira vez, os coordenados FW17-18. Já Susana Bettencourt foi uma das vencedoras do OPENMYMEDPRIZE 2017, atribuído pela Maison Méditerranéenne des Métiers de la Mode, um reconhecimento que só foi possível considerando o trabalho de divulgação da marca em certames de moda de referência no continente europeu, quer seja no showroom da London Fashion Week, ou nos dois desfiles consecutivos que já apresentou na Altaroma (em julho de 2016 e janeiro de 2017).
Revitalizar a moda nacional para consolidar a estratégia internacional
Um afincado trabalho de base está na origem desta caminhada para o sucesso internacional, algo que permite hoje a “Portugal posicionar-se em lugares mais cimeiros no circuito da moda mundial”, considera Rafael Alves Rocha. Uma nação que já não é somente vista como produtora de coleções mas, mais do que isso, que é agora reconhecida “como um país de moda”, remata o mesmo responsável. Uma mudança de paradigma que recebeu o contributo do projeto de internacionalização do Portugal Fashion, que este ano atravessa a sua fase de ouro. Só no primeiro semestre de 2017, o projeto realiza sete fashion stops, incluindo paragens nas quatro capitais mundiais da moda.
Para o Imagens de Marca, esta nova geração de designers é comparada a “verdadeiras startups que ajudam a levar mais longe o made in Portugal”. Em Paris, montra privilegiada para os criadores nacionais, Hugo Costa apresentou a coleção para o próximo outono-inverno num set design completamente forrado a papel branco, recriando um ambiente de neve que remetia para as expedições à neve concretizadas pelo famoso explorador Roald Amundsen, no início do século XX. Um cenário onde a experimentalidade era o prato forte e que surpreendeu os convidados durante as três horas em que decorreu a performance. Um designer nascido na plataforma Bloom, que cria em Portugal, mas que tem no mundo a sua janela de oportunidades.