Moda e os órgãos comunicação social
OPINIÃO – O mundo da moda está consciente da ajuda que podem proporcionar os meios de comunicação social e recorre a todo o tipo de estratégias para se fazer querer por eles.
Um estilista sabe que se o seu nome sair na imprensa pode significar milhões de lucros em vendas ou, pelo menos, um reconhecimento no fechado e apertado mundo da moda. Esta é a razão pela qual, em determinadas ocasiões, se cria uma moda não para a sociedade em geral mas sim para publicidade. Não para ser vendida, mas sim fotografada e difundida.
Esta é a raiz de muitos dos desenhos escandalosos que povoam as passarelas. Poderíamos dizer, retomando o conhecido ditado periodista, que igual às “boas notícias são más notícias” para os meios de comunicação, a elegância e o bom gosto não são “notícia”, mas o extravagante e o escandaloso sim.
É curioso observar alguns fotógrafos numa passarela: com um desinteresse quase absoluto observam o desfile de uma dezena de estilistas de diferentes estilos, mas que se usam diariamente. O desinteresse, porém, desaparece quando desfila um modelo com uma peça transparente. Este modelo será alvo de uma verdadeira rajada de disparos de flashes.

No dia seguinte, a foto escolhida para o jornal ou revista será esta ultima, os críticos falarão sobre o dito vestido e a colecção do estilista fica reduzida a um mais ou menos estético nu. Normalmente, em frente a estes fotógrafos, há outros que sabem valorizar um bom desenho e o distinguem do simples “publicitário”.

De qualquer maneira, apesar de não ser uma questão de cortar cabeças, com isto reduzir a passarela a um espectáculo chocante, extravagante e escandaloso, a culpa é de quase todos nós. Os fotógrafos que somente assistem a um desfile como se tratasse de um mercado e apenas procuram a foto escandalosa, os directores de grandes meios de comunicação que solicitam aos seus fotógrafos precisamente isso, os estilistas que vendem a sua colecção porque sai na imprensa, também com esta foto, e os modelos que se submetem a este jogo de interesses, sendo etiquetados em determinadas ocasiões como objecto sexual.
Neste sentido, também se manifestam alguns estilistas quando afirmam temer que o mundo da moda continue a considerar a mulher como um objecto. E se para alguns este facto é meramente um ponto banal, já para outros demonstrar o bom senso pode significar um incremento no volume de vendas e, ao mesmo tempo, eliminar o estereótipo de mulher como objecto sexual.

Um exemplo disso mesmo é Prada, que com relação à excessiva erotização da moda afirma que “nos desfiles, a sexualidade banal quase se converte numa obsessão e para o meu trabalho é dizer não! Demonstrar que o cérebro pode ser extremamente sexy, sim. Por outra parte, a partir de um ponto de vista criativo, essa sexualidade banal e recorrente não tem qualquer tipo de interesse.
De resto, fica uma questão eterna: assistimos aos grandes desfiles internacionais onde são apresentadas milhares de peças que frequentemente veremos em qualquer meio de comunicação social. Agora, quantas peças alguém viu, de facto, fora da passarela e vestida numa pessoa? Moda e os órgãos comunicação social
O que nos leva a concluir que efectivamente as passarelas não são mais do que um dispendioso meio dos estilistas para fazerem publicidade às suas criações (!?).
Susana Tavares