Modelos transgénero acabam com preconceitos na moda
MODELOS – Quando Valentina Sampaio apareceu na capa da Vogue Paris, nada indicava que fosse algo extraordinário: uma mulher com um visual sedutor e glamouroso, nada senão o título da publicação: “A Beleza Tansgénero”. O seu caso não é o único no mundo da moda, onde parece que publicações e designers estão cada vez mais abertos a modelos que decidiram mudar de género.
Valentina fez história ao ser a primeiro modelo transgénero a aparecer na capa da “bíblia da moda”. A sua trajectória histórica continuou mais tarde nas capas da Vogue Alemanha e da Vogue Brasil, o seu país natal, em Dezembro de 1996.
Aos 8 anos, a psicóloga da modelo entendeu que a sua paciente era transexual e, alguns anos depois, decidiu chamar-se Valentina. “Eu vi escrito e adorei”, disse a brasileira, que também disse que sempre se sentiu uma mulher “e sempre fui tratada como tal, é como me sinto e é isso que transmito para as pessoas”.
Os seus olhos oblíquos, feições marcantes, 1,77 metros de altura e corpo esguio imediatamente a fizeram sobressair na modelagem e até mesmo o seu nome veio a ser mencionado para fazer parte dos anjos de Victoria’s Secret, embora isso não tenha acontecido até hoje.
O que aconteceu é que mais e mais modelos transgénero ganham espaço em revistas e desfiles de moda. Quando a Vogue Paris decidiu colocar Valentina na sua capa, tinham em mente mudar a cara da moda e pôr fim ao preconceito.
Só este mês a revista ELLE aderiu a esta tendência, pois nas suas edições do México e dos EUA mostra belezas transgénero, justamente Valentina foi a capa na nação latino-americana e nos Estados Unidos surgiu Indya Moore.

Indya Moore é uma história de luta incansável. Ainda que chamou a atenção pela sua interpretação de “Angel”, uma mulher trans na Nova York dos anos 80 na série “Pose”, a sua batalha começou muitos anos antes, no Bronx, onde enfrentou discriminação.
Indya teve que se separar dos seus pais aos 14 anos, porque eles não podiam entender como ele nascendo com o sexo masculino, tinha um comportamento longe de ser o comportamento tradicional atribuído a esse sexo.
Aos 15 anos deixou a escola para se dedicar à modelagem, mas não sem problemas no meio. Ele morava num albergue em Queens e se passasse mais de 24 horas sem estar no local, corria o risco de perder a cama. Quando tinha 22 anos, o seu sonho começou a tornar-se realidade quando fez parte da Semana de Moda de Nova York. Agora, com o seu trabalho em “Pose”, uma aparição no Saturday Night Live e colaboração com várias marcas, o sonho de Indya é estudar biotecnologia.
Uma pioneira
No final de 2010, uma figura estilizada apareceu numa campanha da Givenchy, desenhada por Riccardo Tisci. Mais tarde soube-se que a menina, Lea T, era um modelo transgénero.
Nascido em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro. Leandro (seu nome verdadeiro) foi incentivado pelo próprio Tisci, que sempre notou os seus modos e femininos, para comparecer numa festa com sapatos femininos.
Foi o primeiro movimento dentro da mudança de Lea que atingiu o seu clímax com a campanha da Givenchy, causando a fúria da sua família católica. Pouco depois, soube-se que a modelo é filha de Toninho Cerezo, figura de futebol no Brasil.
Quase uma década depois de sua aparição, Lea T ainda está activa no mundo da moda, onde o seu nome já faz parte da história.
De Andrej a Andreja Modelos transgénero acabam com preconceitos na moda
“O menino mais bonito do mundo” apareceu na capa da The New York Magazine em 2011. O jovem andrógeno da publicação era o modelo Andrej Pejic, nascido na Jugoslávia em 1991, mas de nacionalidade australiana.

Pejic estava então no auge da sua carreira, com desfiles de marcas importantes em que aparecia como se fosse outra modelo, com saias, vestidos de noiva, saltos. Naquele mesmo ano, apareceu nos desfiles masculinos e femininos da firma francesa Jean-Paul Gaultier.
A sua aparência feminina logo atraiu a atenção, mas em meados de 2014 relatou que planeava mudar o seu nome de Andrej para Andreja e que passaria por cirurgia de redesignação sexual. “A androginia tornou-se uma maneira de expressar a minha feminilidade sem dar explicações, mas sempre tive em mente que, no final, o meu grande sonho era ser mulher”.
Em 2016 a casa italiana Diesel juntou-se à tendência de beleza transgénero e apresentou na sua campanha “About You” os modelos Benjamin Melzer e Loiza Lamers.
Melzer fez história nesse mesmo ano, tornando-se o primeiro modelo trans a aparecer na capa da revista Men’s Health.
“O meu objetivo é mostrar ao mundo que os homens transgénero são homens normais”, disse o alemão, que quatro anos antes havia iniciado a sua transição.
Loiza Lamers, originalmente da Holanda, venceu a oitava temporada do Holland’s Next Top Model tornando-se a primeira transgénero a conseguir essa distinção dentro de todos os reality show.
Desde que muito jovem, Loaiza começou a sua transição e aos 10 anos apareceu no documentário “From Lucas to Luus”, que mostrou o seu processo. Aos 18 anos, a loira submeteu-se a uma cirurgia de mudança de sexo.

Antes de Loiza, Isis King tinha-e tornado na primeira trans a competir no concurso America’s Next Top Model.
Ocupou o o décimo lugar na temporada 11 e depois voltou ao reality no ciclo conhecido como “All-Stars”.
Desde muito pequena, sentia-se como uma mulher apesar de ter nascido com o sexo masculino. Em 2007 iniciou a sua terapia hormonal e em 2009 passou por uma cirurgia de mudança de sexo.
Para Laith de la Cruz, nascer como mulher não a fazia sentir-se confortável. “Desde criança eu sempre soube que era diferente, sempre me senti mais confortável com roupas masculinas, quando minha mãe me dava roupas femininas, não gostava delas, tirava-as, e quando me dava bonecas também não as queria”.

Aos 12 anos começou a sofrer bullying, mas teve o apoio da sua família para conseguir a sua transição.
Com a sua mudança completa, Laith fez carreira como modelo e até deixou ver a sua figura numa campanha da Calvin Klein.