Artigo de opinião | Paulo Costa
Por mais que nos surpreenda, o concurso Miss Universo continua a ser realizado. No fim de semana, a nova Miss França foi coroada, causando polémica nas redes sociais, pois a sua aparência física desvia-se dos padrões de beleza atuais (nem todos, já que ela ainda é uma mulher magra). Tendo a frase “Ela não se parece em nada com a Miss França” como uma das críticas mais repetidas, a jovem modelo de 20 anos, Ève Gilles, tornou-se no centro das atenções nas últimas dias. Tanto que a sua aparência física chegou até à política.
A nova Miss França ou como se tornou no tema favorito nos últimos dias?
Coroada como a mulher mais bonita do país francês, a sua aparência gerou muita polémica e pela primeira vez em 103 anos de história do concurso, o júri optou por uma mulher com corpo andrógeno e sem as “tradicionais” curvas e um cabelo curto estilo pixie. Com controvérsias deste tipo, interrogamo-nos em que século vivemos (estas coisas continuam a surpreender-me e a entristecer-me).
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Embora Ève tenha ficado em terceiro lugar na votação do público, o júri decidiu colocá-la em primeiro lugar no ranking. Com um total de 7,5 milhões de telespectadores a assistir ao programa pela televisão, a polémica sobre o seu físico não demorou muito. Sandrine Rousseau, líder do Partido Europeu Ecologia dos Verdes (EE-LV) e uma das representantes feministas mais proeminentes do país, perguntou: “Então, em França, em 2023, medimos o progresso no respeito pelas mulheres pela extensão? O seu cabelo?” Além disso, acrescentou que “estou consternada com os comentários sobre a #MissFrance2024, não imaginava que chegássemos a esse ponto. O nosso cabelo, e o que fazemos com ele, como o estilizamos, não é um problema dos homens. Ponto”. Com um corte de cabelo igual ao da jovem, ela tornou-se num dos emblemas do movimento francês #MeToo.
Donc, en France, en 2023, on mesure la progression du respect des femmes à la longueur de leurs cheveux ?
Que je comprenne.#MissFrance2023
— Sandrine Rousseau (@sandrousseau) December 17, 2023
Como seria de esperar – infelizmente -, a rede social X ( a que antes conhecíamos como Twitter) encheu–se de críticas pretensiosas baseadas na inclusão. Há quem defenda a escolha de Ève e declare que “incutir valores wokistas na sociedade” só porque o corte de cabelo lhe parece ridículo. A ideologia woke é um termo que inicialmente foi usado para se referir àqueles que enfrentam ou permanecem alertas ao racismo. Como culminação final, uma usuária aproveitou o anonimato que esta plataforma proporciona para a comparar a Justin Bieber apenas por ter cabelo curto.
A revolta foi tanta que até os pais da modelo, originários de Reunión, revelaram à revista Gala que a filha “tinha cabelo comprido, mas já o tinha cortado muito antes de aparecer no seu primeiro concurso regional”. Além disso, garantiram que o seu corpo é assim porque “é da sua natureza e o facto de praticar muitos desportos desde criança como equitação, dança, atletismo… fez com que ela ficasse muito musculada, além de comer bem, é muito meiga, adora boa comida.
O mais triste de tudo é que além de ser uma mulher bonita, a nova Miss França estuda Matemática e Ciências da Computação Aplicadas às Ciências Humanas e Sociais, mas parece que isso não importa.
Imagens: divulgação . . O polémico corte de cabelo da Miss França 2024
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