Artigo de opinião | Paulo Costa
Os tempos mudam e os perfis também mas o que não mudam são as funções. Tradicionalmente as pessoas mais importantes das cidades eram o presidente da câmara (pela sua posição), o médico, o padre, e o psicólogo.
Nas nossas cidades modernas, cheias de edifícios e tecnologia de ponta, o perfil de psicólogo encontra-se diluído nos nossos amigos, família, companheiros de trabalho… Mas há uma pessoa que nos entende e nos escuta pelo menos uma vez por mês duramente, e pouco mais de meia hora.
Essa pessoa á a cabeleireira que nos tem à sua mercê, armada com tesouras, lâminas, pentes, secadores, jatos de água, e que é capaz de conhecer as nossas reações, os nossos desejos, sentimentos e ainda paixões enquanto fazem o seu trabalho. É então quando o psicólogo é o cabeleireiro.
Um salão de beleza é, antes de mais, uma pequena selva de vaidades à qual vamos para melhorar o nosso aspeto no mais curto espaço de tempo possível. Mas os clientes têm um hábito um tanto ou quanto fora do vulgar: confundir um cabeleireiro com um psicólogo, um confidente, ao contar-lhe todo o tipo de intimidades e, para além disso, pedir-lhes conselhos. E tudo pelo preço de um corte ou, ainda, um vulgar “brushing”.
Há uma pessoa que nos entende e nos escuta pelo menos uma vez por mês duramente pouco mais de meia hora
Muitas das mulheres que frequentam os salões de beleza procuram sentir-se únicas e também ouvidas, assim que não hesitam em falar “do marido, namorado, filho, mãe, ou que quem faça falta”. Pelo menos isso é o que me diz a minha cabeleireira que atende todas estas interessadas, e que também procuram uma imagem diferente e “chamativa”.
Aqui há dias fui cortar o cabelo, e enquanto falávamos sobre as mudanças que pretendem fazer na rua criando uma zona para peões, a minha “profissional de cabelos” comentava com naturalidade as clientes que se tinham sentado na sua cadeira desde criança e as suas diferentes evoluções.
Os tempos mudam e os perfis também mas o que não mudam são as funções.
A sua análise, e podem-me catalogar como ignorante, era quando o adolescente se sentava na cadeira e pedia penteados novos, diferentes, originais, “esquisitos” e desconcertantes, assumia que estes pedidos não eram normais e o que podiam terminar mal se os pais não tomassem medidas.
A análise pode parecer simples, mas garanto-vos que os nossos pais nunca nos disseram que poderíamos ter uma fonte objetiva de informação e adicionalmente poderíamos tentar reduzir comportamentos indesejados a longo prazo com um a simples ida ao salão de beleza.