A Lagoa Azul faz 45 anos em 2025. Brooke Shields, a protagonista feminina, tem 60 anos. De facto: Shields ainda não tinha 15 anos quando começou a filmar um filme que em 1980 foi um sucesso de bilheteira e motivo de chacota para os críticos. Hoje, a Lagoa Azul ainda existe.
Na altura, nos Estados Unidos, o filme ficou em 12º lugar entre os filmes com maior receita de bilheteira de um ano dominado, cinematograficamente falando, por O Império Contra-Ataca, a sequela de Star Wars. Randal Kleiser, realizador de A Lagoa Azul, foi o responsável por dar continuidade à saga de George Lucas. Ele realizaria O Regresso do Jedi. Antes de A Lagoa Azul já tinha assinado outro filme icónico: Grease. Nele, descobriu outra estrela que viria a obcecar os Estados Unidos: John Travolta.
Mas Travolta nunca atingiria os níveis de obsessão nacional (e global) que Brooke Shields despertou, lançada para o estrelato numa altura em que sexualizar uma adolescente de 14 anos não era um problema. Nessa idade, Shields já tinha uma vasta experiência como modelo e atriz. Na verdade, mal conhecia outra vida para além daquela entre câmaras e holofotes. Teri, a sua mãe muito controladora, decidiu que a sua única filha seria uma estrela. Ao superar as estatísticas, obteve sucesso.
Quando A Lagoa Azul foi lançado, no verão de 1980, Brooke já tinha trabalhado em vários filmes e era uma modelo requisitada. No mesmo ano, em fevereiro, apareceu na capa da Vogue americana. Graças às suas duas profissões, Brooke era também famosa. E algo escandaloso. Foi a prostituta infantil em Pretty Baby, realizado por Louis Malle. E foi ela quem proferiu a frase que popularizaria os jeans Calvin Klein num lendário anúncio televisivo realizado por Richard Avedon. Nessa campanha, Shields alegou maliciosamente que literalmente nada estava entre ela e os “meus Calvins”. Brooke Shields vendia sexo antes mesmo de saber o que era.

A venda de sexo no filme A Lagoa Azul era maior, muito maior. O filme, baseado num romance do autor irlandês Henry de Vere Stacpoole, conta a história de amadurecimento de duas crianças que crescem sozinhas numa ilha tropical depois do navio em que viajavam se ter afundado. Sem a supervisão do único sobrevivente maduro do naufrágio, que morre na ilha depois de alertar as duas crianças para os seus perigos, os primos Richard (Christopher Atkins) e Emmeline (Brooke Shiedls), como as baratas de outro mítico anúncio televisivo, crescem, reproduzem -se e…
Obviamente, a parte da reprodução foi a mais comentada de A Lagoa Azul. Anos mais tarde, porém, o filme foi alvo de uma releitura extracinematográfica que apontou o absurdo de filmar tal argumento com menores. Até o uso de duplos de corpo foi considerado uma decisão pouco ética: para filmar certas cenas do corpo de Emmeline, foi utilizada uma atriz 20 anos mais velha do que Brooke Shields, o que, embora não expusesse Shields (recorde-se: 14 anos) nua para filmar, sexualizou grosseiramente a sua personagem, quase uma criança, na sala de montagem.
Christopher Atkins filmou as suas cenas sem roupa, complicando ainda mais a lenda das filmagens de A Lagoa Azul. O que Atkins não teve de fazer foi testemunhar perante o Congresso dos Estados Unidos para certificar que não tinha filmado nu. Esta foi a vez de Brooke.
O tempo também tratou Shields e Atkins de forma diferente. A sua carreira de ator cedo caiu na irrelevância, onde se mantém, enquanto a dela, já estabelecida como uma super-estrela (para seu desgosto, por vezes), acabou por oscilar entre aparições especiais que a usavam como chamariz (Friends, Nip/Tuck, Hannah Montana…) e algumas séries em que protagonizou em termos não muito diferentes. De repente, Susan ou Lipstick Jungle eram sempre “o programa de Brooke Shields”.
Mesmo quando fez parceria com o superimportante André Agassi, Shields não perdeu o seu estatuto de estrela. O seu casamento com o tenista deu que falar nos tabloides. Tanto a sua relação delirante (“relação”) com Michael Jackson ou o seu confronto com Tom Cruise, que criticava o uso de medicamentos para combater a depressão pós-parto, uma doença e tratamento que Shields reconheceu como seus.
Hoje, prestes a completar 60 anos, Brooke Shields continua a ser uma mulher marcante e um ícone da cultura pop americana. E A Lagoa Azul, por muito má que seja, ainda funciona muito bem como tema de conversa. Porque os costumes da cultura pop são estranhos. E os jeans Calvin Klein, se confiarmos em Brooke, são muito confortáveis.