Uma questão (não) tão simples: é fashion ou está na moda?
OPINIÃO – Jorge M.C Salgado
Há muitos – e cada vez mais – anglicismos e estrangeirismos em geral que são utilizados no mundo da moda. E se já começam a ser muitos? Vamos tentar desenvolvê-los.
Quantas vezes quando abrimos as páginas de uma revista de moda e não se vê mais do que itálico e aspas destacando palavras que não estão escritas em português. Algumas, senão a maioria, têm a sua própria tradução para esse idioma, como jeans, mas para outras, como halter ou allure, não existe uma tradução exata. A verdade é que o uso excessivo deste tipo de palavra quando se fala em moda está-se a tornar cada vez mais marcante. Os motivos podem ser alguns destes:
UMA RAZÃO HISTÓRICA
O jornalismo de moda não se consolidou até ao século 18, quando a primeira revista especializada, Journal Des Femmes, saiu em França. Mais tarde vieram outros títulos renomados que sobreviveram até hoje, como Vogue, Harper’s Bazaar ou Vanity Fair. Todas essas revistas vêm de países de língua inglesa e nenhuma tem raízes portuguesas.
INFLUÊNCIAS
Vamos admitir, o Estado Português nunca foi um país de referência na moda. Portanto, recebemos influências de meio mundo, mais concretamente de França, Itália, Inglaterra e Estados Unidos. Adaptamos não só as tendências estrangeiras ao nosso guarda-roupa, mas também os conceitos. Enfim… Se a moda portuguesa está aos poucos a conseguir ultrapassar as fronteiras, porque a língua não pode fazer o mesmo?
O NOVO… GOSTO
O que não sabemos desperta muito mais curiosidade do que já vimos. Isso é inegável. Vamos dar um exemplo. Se falamos de um vestido de lingerie pensamos numa peça de roupa sexy e feminina. Por outro lado, se usarmos o mesmo conceito, mas em inglês, slip dress, gera muito mais interesse porque nem sequer temos claro o que o é.
AS NOVAS TECNOLOGIAS
As novas tecnologias mudaram tudo e a moda também, principalmente a forma de consumir informações e temas relacionados às tendências. Agora, todos os leitores utilizam uma tela para conhecer as últimas novidades e estilos. Muitos dos usuários dessas plataformas nasceram na era da Internet e isso significa que a linguagem tem que ser adaptada de acordo com o público-alvo para o qual se dirige e usa muitos anglicismos.
PARIS JÁ TOMOU MEDIDAS
Embora Paris seja a capital da moda por excelência, parece que o francês já não é a sua língua oficial e isso preocupa os franceses… E muito. Ultimamente, eles têm visto como as palavras emprestadas do inglês, os conhecidos anglicismos, têm substituído as palavras gaulesas. Num esforço para restaurar este poder, a Delegação Geral da Língua Francesa uniu forças com a Federação de Alta Costura e Moda para criar um guia léxico alternativo. François-Marie Grau, um especialista em moda francês, diz que naturalmente, os técnicos de marketing se dirigem a públicos estrangeiros em inglês – sem dúvida equivocados, porque a língua francesa tem um incrível poder de sedução.
Querem deixar bem claro que não se trata de banir o inglês, longe disso, mas de reduzir o seu uso com alternativas em francês, já que a relação entre essas duas línguas é praticamente indissociável.
É que na França a moda é um assunto sério. Não é à toa que esta indústria é um dos motores da economia do país, gerando cerca de 150 biliões de euros anuais e empregando um milhão de pessoas, o que representa 2,7% do PIB, um setor mais lucrativo do que a aeronáutica ou o automóvel.
Imagens: divulgação . . Uma questão (não) tão simples: é fashion ou está na moda?
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