Não é surpreendente encontrar lojas da Zara em Marrocos, na China, Índia ou Japão. Nem tão pouco marcas como a Prada ou Dior. Os países árabes, Rússia e Ásia são mercados em franca expansão e por demasiado atraentes para estas marcas. No entanto, uma coisa é entrar num mercado e outra completamente diferente é seduzi-lo.
Não se trata de questões de estilo ou tendência mas sim, por mais incrível que pareça, de tamanhos. Rupert Sanderson sabe-o muito bem. Acaba de lançar na Ásia uma nova versão do seu clássico Winona. O nome; “Hong Kong” (HK$ 4.380, 432 euros). O novo modelo e mais fino e o arco da sola mais baixa. É uma reinterpretação adaptada ao pé asiático. Segundo a firma, nesse continente os pés são menos “carnudos” mas mais compridos do que no Ocidente.
À primeira vista o lançamento desta marca parece um movimento estudado e calculado. No entanto, trata-se de um passo atrás. Rupert Sanderson inaugurou a sua primeira loja na rua Lan em Hong Kong, em Março do ano passado. As potenciais clientes cobiçavam os seus sapatos mas não os compravam. A razão; não lhes “entravam” bem.
Desde a recente introdução de Winona, as coisas melhoraram significativamente na Ásia para a sapataria londrina. As clientes asiáticas começaram a enamorar-se de tacões com dez centímetros, algo impensável na China até há bem poucos anos.
De resto Sanderson não é a única marca a adaptar-se. Salvatore Ferragamo oferece seis tamanhos nos seus modelos: vão desde AA até EEE. Variam de um país para outro. A presença de uma ou outra medida depende da procura. Em Hong Kong comercializam o tamanho EEE para homens e a C e D para mulheres. Na Europa é muito difícil encontrar um modelo que vá mais longe que o B.
O site Just-Style.com publicou um relatório em 2010 sobre o tema. “A pergunta que todos fazemos é: existe um tamanho universal? A resposta é não, a não ser que comercializemos “snuggies” ou algo do género”, ironizou Ed Gribbin, presidente da Alvainsight, parte do especialista Alvalon. Segundo os seus dados, entre 30 a 40% da população encontra o seu tamanho numa marca “local”. A restante é demasiado alta, baixa, gorda ou magra para se sentirem bem.
Ainda segundo o mesmo website, as marcas ocidentais triunfam nos mercados asiáticos durante os seus dois primeiros anos. Logo as vendas estagnam. No inicio vendem por se tratar de uma novidade, estilo e qualidade. Mas quando este entusiasmo passa os clientes simplesmente deixam de comprar. A razão; não se sentem cómodos com os tamanhos dos sapatos nem da roupa.
Coloca-se assim uma pergunta pertinente: como é o corpo asiático e em que difere do europeu? Pois bem, essa informação vale o seu peso em ouro. Alvanon conduziu um estudo sobre esta matéria há dois anos na China. Analisou o corpo de 28.000 pessoas. Os seus resultados estão disponíveis… Sempre e quando as empresas se dispuserem a desembolsar uma elevada quantia por eles.
Por muito que o estilo vigore na sociedade, baixem os preços ou se eliminem os impostos, as marcas continuam a tropeçar na mesma pedra: os tamanhos.