Onde começa a realidade dos sonhos e onde termina
A Paula partilhou uma experiência onde mencionou que tinha tido um sonho em que via uma mesa com farta comida, no sonho sentou-se à mesa e pôde desfrutar de toda a variedade de comidas que lhe foram apresentadas.
Para além da interpretação simbólica que se pode dar ao sonho, o que mais lhe chamou a atenção é que acordou com uma sensação de saciedade tão grande que na hora do pequeno almoço já não conseguia comer nada.
No momento do sonho, as emoções e sentimentos que podemos vivenciar por meio das imagens oníricas são tão reais quanto aqueles que poderíamos sentir se vivêssemos esse evento acordados. Só quando acordamos é que o cérebro é responsável por diferenciar a realidade da fantasia.
O Mário teve um sonho em que se via a ser enforcado, e além da angústia e do medo que acompanharam aquelas imagens oníricas, ele passou o dia todo com dores no pescoço, tossindo às vezes, e também descreveu ter a sensação de ainda sentir a corda a pressioná-lo até que respire por ar.
Nestes casos, o fenómeno pode ser explicado por estímulos ambientais, ou seja, é provável que algo na cama o estivesse oprimindo, e isso ocasionou principalmente o sono e a consequente dor. A sensação de dano físico também pode ser simplesmente a somatização da experiência sonhada.
Podem haver sonhos tão reais que geram confusão nos primeiros minutos do despertar. É o caso de Matilda, que sonha que acorda, sai da cama e começa as tarefas do dia-a-dia, quando de repente acorda de verdade e percebe que ainda está na cama e que não fez nada do que já teria feito enquanto dormia. São necessários alguns minutos para que as ideias se assentem e se estabilizem.
A intensa realidade dos sonhos pode ser devida a produtos farmacológicos, podem ser causados por um transtorno mental, stress, ansiedade ou pela vivência de um acontecimento dramático na vida real. As mudanças repentinas nos horários também costumam ser um motivo para vivenciar essa sensação, que pode acontecer em viagens longas onde mudanças de fuso horário causam certo distúrbio do sono que se estabiliza com o passar dos dias.
Outro exemplo do real efeito dos sonhos sobre o corpo são aqueles relacionados ao erótico e que envolvem o contacto físico íntimo com outra pessoa, conhecida ou não, ou fantasias onde protagonizam figuras do mundo do cinema, da música ou da modelagem. Esses sonhos podem ser tão reais que causam orgasmos da mesma maneira que sentiríamos se o acto sonhado fosse verdadeiro.
A actividade neurológica que ocorre quando sonhamos com algum tipo de acto cognitivo é a mesma que ocorre quando estudamos, lemos ou fazemos cálculos na vida real. Assim, os sonhos podem ser experimentados de forma tão real quanto a própria vida enquanto dormimos.
O filósofo Chuang Tzu, num dos seus contos escritos há 300 anos a.C. expressa: “Sonhei que era uma borboleta, e quando acordei não sabia se era um homem que tinha sonhado ser borboleta, ou uma borboleta que sonhava ser homem”.