“…porque não tinha a barriga lisa como a maioria das miúdas e como ditava a sociedade, o aspeto corporal torna-se uma obsessão e querem a todo o custo ter o corpo perfeito.”
Se não foste tu, fê-lo a tua amiga, mas com certeza alguém substituiu o clássico “cheese!” por “encolhe a tua barriga!” pouco antes da foto de grupo. Talvez na altura não tenhas dado importância a isso, mas esse comentário (e a sua aceitação) dá-te as boas-vindas ao clube dos obcecados com o ventre liso, onde é mais provável que sejas instigada a castigar-te por não ter um abdómen plano e tonificado.
Muitas mulheres sofrem um verdadeiro martírio psicológico após a maternidade, em busca de recuperar a aparência da sua barriga antes de engravidar. Elas querem voltar à sua antiga silhueta o mais rápido possível, para não se sentirem fisicamente desvalorizadas. Ou seja, a exigência estética não abre mão do espaço mental apesar da mudança brutal que acaba de ocorrer na sua vida e que, normalmente, perturba toda a linha de preferências pessoais.
Mesmo nesses momentos, temos consciência da estereotipagem física feminina, o que mostra a força dos cânones que durante séculos nos sujeitaram à ideia de que, entre outras coisas, a barriga tem que ser plana e, se possível, tonificada. Porque o six pack não se torna uma obsessão pela força que dá ao núcleo, ou pelo controle que oferece aos movimentos do corpo. O abdómen é uma obsessão estética e não uma questão que se dilui.
O abdómen é uma das áreas que mais preocupa as mulheres e pode ser cada vez mais determinante. Muitos tratamentos corporais, programas desportivos e hábitos alimentares concentram-se em atingir a meta de uma barriga lisa e tonificada. Estamos obcecadas com o fato de que nos podemos gabar dela sem complexos, como se dependemos da aparência em vez de julgamentos. Usamos palavras diferentes para nos referirmos à área dependendo do estado em que a consideramos: se temos muita gordura acumulada ou nos sentimos inchadas dizemos “olha a minha barriga”; se tivermos alguns identificadores de amor “aceitáveis”, chamamos intestino e, após semanas de autopunição do nosso corpo para detetar abdominais em frente do espelho, falamos sobre abdominais (já que é difícil obter essa marca, para não fazer referência).
O perigo da obsessão com o ventre plano
Segundo os especialistas em psicologia alimentar, autocuidado e aceitação corporal, o perigo de querer atingir um determinado físico, como mostrar a barriga lisa e tonificada, tem a ver com os comportamentos que acabamos por fazer para perseguir esse objetivo:
- Dietas para emagrecer com todas as suas consequências: restrição-falta de controle dos ciclos com os alimentos, deixar de prestar atenção aos sinais de fome, saciedade, satisfação, aumento do desejo por alimentos proibidos, desaceleração do metabolismo, possibilidade de desenvolver um Transtorno de Comportamento Alimentar (TCA).
- Excesso de exercícios ou exercícios com a intenção de mudar o corpo: não atender às necessidades do corpo de descanso e alimentação, culpa quando não fazemos, parar de fazer para não saltar aquele exercício.
- Isolamento social para não nos expormos a situações que possam engordar ou não cumprir o plano.
- Ruminação contínua em relação ao corpo e aos alimentos. Verificação contínua do corpo.
- Comportamentos compensatórios: vómitos, laxantes…
Tudo isso torna a vida da pessoa cada vez mais pobre, que a comida e o corpo ocupem muito espaço mental e emocional e que acabe convivendo continuamente com a culpa, a frustração, o desejo, a necessidade de controle e o consequente descontrole.
Aprende a aceitar o teu corpo
Durante muitos anos, as mulheres aprenderam a subestimar os corpos reais em favor de modelos inacessíveis. Recentemente, Emily Ratajkowski estava a participar numa cerimónia de entrega de prémios exibindo uma barriga (de impacto). O seu estilo apoia aquela cultura de demanda estética sobre uma barriga lisa, especialmente quando consideras a sua recente maternidade. Porém, o erro é focar nesses tipos de referências e não em num trabalho pessoal de aceitação e autocompaixão que é difícil, mas muito gratificante.
Para resumir o conceito de aceitação e autocompaixão, temos que adorar a ideia de aprender a ‘estar com’: ‘estar com’ aquilo que o meu corpo não gosta, ‘estar com’ aquilo que gostaria de fazer mais do que meu corpo me permite fazer neste momento, ‘estar com’ aquilo que não sinto é muito bom, ‘estar com’ que não sou bom em arte… Estar com tudo isso de uma forma amigável e ao mesmo tempo tempo sentindo que mereces respeito, apreço e carinho.
Imagens: divulgação . . Perder a barriga: uma obsessão perigosa para as mulheres e homens
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