O medo é um mecanismo de sobrevivência que nos alerta para as ameaças do ambiente e nos prepara para enfrentar ou fugir do perigo. Quando sentimos uma ameaça (real ou imaginária), vários sistemas neurais são activados e causam reações no resto do nosso corpo. O principal neurotransmissor libertado é a adrenalina, que aumenta a circulação sanguínea, a frequência cardíaca e a glicemia, acelerando o metabolismo, dilatando as vias aéreas e participando da reação de luta ou fuga do sistema nervoso simpático.
Quando o perigo passa, o cérebro começa a secretar dopamina, um hormônio (e neurotransmissor) que proporciona euforia, prazer, bem-estar e relaxamento. Além disso, a dopamina está relacionada ao sistema de recompensa do cérebro, que nos encoraja a repetir os comportamentos que causaram a sua libertação. Portanto, as actividades que causam a libertação de adrenalina (como desportos radicais) podem-se tornar viciantes. Soma-se a isso que o cérebro precisa de uma dose cada vez maior para experimentar a mesma coisa, o que explicaria por que o risco aumenta na procura de emoções mais fortes ou, no caso dos filmes, argumentos mais impressionantes.

Depois do medo, o cérebro também aumenta o nível de outros hormônios e neurotransmissores; especificamente, serotonina, estrogénios e testosterona. A serotonina ajuda a regular diferentes funções, incluindo o desejo sexual e o humor. A sua influência sobre isso é tão marcante que, quando os seus níveis são altos, produz estados de felicidade e euforia semelhantes aos causados por drogas como o LSD. E quanto ao estrogénio e à testosterona, os primeiros desempenham um papel determinante no desejo sexual, no optimismo e na sensação de bem-estar, e a testosterona estimula o desejo sexual (tanto masculino quanto feminino). Não é de surpreender que tal cocktail de substâncias provoque nalgumas pessoas uma excitação sexual tão intensa que leva a um orgasmo involuntário.
Factores sociais e culturais
Alguns factores sociais e culturais, como a incerteza diante do desconhecido, a identificação com o lado sombrio ou a erotização do medo, também influenciam o aparecimento da excitação sexual quando enfrentamos situações de risco ou medo.
Incerteza diante do desconhecido
Segundo alguns estudiosos como Helen Fisher, bióloga da Rutgers University (EUA), a curiosidade pelo desconhecido ou pelo diferente tem um papel determinante. Quando nos deparamos com o que não conhecemos ou não compreendemos, o nosso corpo é acionado para o compreender e/ou enfrentá-lo. É a incerteza diante do que vai acontecer e diante das “zonas escuras” dos protagonistas que achamos tão atraentes. É por isso que tantos filmes de terror “procuram o medo através da ignorância, do incontrolável, e se concentram em coisas que nunca vivenciamos e para as quais não temos regras ou maneira de entender. O sobrenatural, o que ninguém conhece, o oculto e o desconhecido, é seu principal património”, afirmam especialistas.
Identificação com o lado negro
Por outro lado, as tramas combinam com essas situações sobrenaturais outras realistas para que nos possamos identificar com os protagonistas e assim colocarmo-nos no seu lugar, activando a nossa empatia que, por sua vez, é reforçada pelo facto de refletirem sentimentos politicamente incorretos que todos nós abrigamos, como vingança ou violência. Desta forma, como menciona Jeffrey Goldstein, professor de psicologia social da Universidade de Utrecht (Holanda), podemos desfrutar de entretenimento violento porque é socialmente aceite.
Erotização do medo
De alguns anos para cá, notou-se uma crescente erotização de situações, cenários e personagens que, a princípio, eram aterrorizantes. Um exemplo claro disso são as capas da Shudder Pulps ou Weird Menace, um subgénero do terror e da ficção policial dos anos 1930 e início dos anos 1940, cheio de mulheres seminuas ou com vestidos que marcavam as suas curvas, os seus seios fartos e o seu corpo, bem como mamilos empinados.
Personagens como vampiros, lobisomens, mulheres-aranha, múmias e canibais (literalmente) que se tornaram, graças à magia de Hollywood, o centro dos nossos desejos mais perversos. Quem diria ao Nosferatu de Murnau ou Werner Herzog que ele seria transformado num vampiro que brilha à luz do sol ou no amante imortal que viajou “oceanos no tempo” para nos encontrar e que estamos mais do que dispostos a lhe dar o nosso amor, porque não nos importamos nem um pouco que tenha comido todos e mais alguns, inclusive o nosso melhor amigo?
Traços psicológicos e personalidade
Mas nem todas as pessoas gostam ou se emocionam numa situação de terror, pois a nossa personalidade e as nossas experiências têm um peso determinante. Segundo Marvin Zuckerman, que foi professor emérito de psicologia da Universidade de Delaware (EUA), os amantes do terror e do risco tendem a ter certas características: são abertos a novas experiências e aprendizados, são extrovertidos, imaginativos, curiosos e empáticos ou têm uma grande receptividade aos seus próprios sentimentos e emoções e sensibilidade à beleza e à arte.
Além disso, quem gosta de horror sabe que não há risco real, mas que são meros espectadores de um filme, para que se possam abrir para a experiência. Ao contrário, como afirma Michael David Rudd, professor de psicologia da Universidade de Memphis (EUA), algumas pessoas sentem que existe um perigo real porque têm “vulnerabilidade psicótica”, ou seja, uma tendência a confundir fantasia com realidade. Então estes tipos de experiências podem ser traumáticas.
Por fim, é preciso diferenciar os medos inatos (como, por exemplo, o medo da morte, da escuridão, de barulhos altos e de certos animais) e medos adquiridos por meio do aprendizado em interação com o ambiente. Assim, situações que não causam medo aos outros podem-nos causar a nós se passamos por uma determinada situação que nos causou um trauma.
Como vimos, vários factores neuropsicológicos e culturais influenciam a percepção do medo e a resposta ao mesmo. Portanto, enquanto levas o teu namorado ver um filme de terror, bungee jumping ou a casa do terror, pode ser uma boa tática de abordagem, reforçada a que os psicólogos chamam de “transferência de excitação” (a emoção sentida com uma atividade se espalha para a próxima).
Mas cuidado, também pode seja um plano que o leve a odiar-te. Informa-te, descobre primeiro, não submetas ninguém a nenhuma experiência intimidadora sem consentimento prévio (claro, isso inclui dramatização erótica, cegueira, violência…) e bem, se estiveres aterrorizada e ele disser não, podes sempre apreciá-lo sozinha.
Imagens: divulgação . . Porque nos sentimos excitados com o medo?
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