Inovafil vai criar novas fibras a partir do lixo têxtil e agrícola
A Inovafil é uma das empresas que integra o projeto europeu liderado pela H&M e pela Adidas, que tem como objetivo a produção de novas fibras têxteis a partir de desperdícios têxteis e agrícolas. O segredo, explica Rui Martins, administrador da Inovafil, é olhar para a roupa em fim de vida como uma matéria-prima, com vários componentes.
O projeto, que tem como base a fibra Infinitive Fibre, desenvolvida em parceria com a empresa finlandesa Infinited Fiber Company, tem como objetivo arranjar uma solução para as toneladas de roupa em fim de vida que todos os dias enchem aterros um pouco por todo o mundo. Uma necessidade que levou os países nórdicos à procura de uma forma de extrair celulose, uma das matérias-primas usadas na produção de fibras, a partir de desperdícios têxteis. O resultado são fibras de viscose, lyocell, e modal, entre outras.
“O algodão, percentualmente, tem mais celulose que um tronco de madeira. Então vamos deitar celulose ao lixo e cortar árvores para extrair celulose? O que estamos a fazer – em parceria com os países nórdicos, que têm muita expertise e know-how associado à madeira – é dissolver roupa, extrair-lhe a celulose e utiliza-la para voltar a fazer fibras. Essa fibra chama-se Infinitive Fibre”, revela Rui Martins.
O próximo passo é partir para os desperdícios agrícolas, ou seja, a todo o excedente que fica das colheitas depois de recolhido o fruto e que normalmente ou vai para um aterro ou para queimar e que também é passível de ser dissolvido para retirar a celulose.
Para o administrador da Inovafil, esta pode ser uma solução a longo prazo para a problemática do desperdício têxtil, à semelhança do que aconteceu com outros processos de reciclagem no passado.
“Ao início, o papel reciclado era amarelo, cheio de impurezas e mais caro do que o papel virgem. Quando surgiu, e mesmo sendo mais caro e de menor qualidade, alguns adoptaram porque tinha um propósito associado. Hoje onde é que está essa lógica do papel reciclado? Não está porque praticamente todo ele é reciclado, e com a qualidade do virgem. Deixou de ser uma questão”, afirma Rui Martins, que defende que o mesmo vai acontecer com o vestuário. “Inicialmente estas fibras vão ser mais caras e não tão versáteis, estando só ao alcance de alguns. Mas com o desenvolver da tecnologia, ninguém vai conseguir ver a diferença entre fibras recicladas e virgens”.
Este projeto, que integra outras empresas têxteis mas também universidades, está em fase de desenvolvimento e tem como objetivo a produção de roupa para a H&M e Adidas.