Portugal volta a marcar presença na ISPO Munich, dias 3 a 5 de dezembro, dividido entre as Ilhas From Portugal – Sustainable Textile & Apparel, organizadas pela ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal e stands individuais. Em entrevista ao T Jornal, Tania Mutert Barros, representante da feira, fala sobre a evolução do têxtil nacional, aquilo que considera ser o futuro do sector e os destaques desta edição.
A interligação entre o desporto e moda vai ser notória na próxima ISPO dada a nova parceria com a Copenhagen International Fashion Fair. Que oportunidades podem sair daqui para a ITV portuguesa?
A tendência athleisure tem sido muito falada e veio para ficar. A expressão, que junta “athletics” e “leisure”, reflete um estilo que combina conforto e moda, algo que há alguns anos seria impensável e que influenciou muito a ISPO Munich.
Nas últimas edições da feira, as marcas de streetwear, urbanwear, denim e calçado juntaram-se como novos expositores, pois os consumidores procuram uma moda mais funcional, sustentável que valorize, ao mesmo tempo, o design.
A parceria com a CIFF – Copenhagen International Fashion Fair é representativa desta fusão entre o desporto e moda e pode trazer, realmente, excelentes oportunidades de negócio para a indústria têxtil nacional. Esta parceria trará em dezembro marcas escandinavas à ISPO Munich 2024. É um mercado que muitas empresas portuguesas já conhecem bem e a indústria nacional está muito bem posicionada como fornecedora para estas novas marcas.
Convido os fabricantes, nas suas visitas à ISPO Munich 2024, a prestar especial atenção à área ‘Zeitgeist by ISPO’, situada no pavilhão B1, que terá marcas tradicionalmente provenientes do setor da moda.
As Ilhas From Portugal mantêm-se, qual é a importância de continuar a passar uma imagem de coletivo? Como descreve a evolução da participação portuguesa e qual é o caminho a seguir para o futuro?
Recordo bem o momento do ano passado, no salão Modtissimo, quando festejámos 15 anos de sucesso de Portugal na ISPO Munich! A participação portuguesa estreou-se de forma muito modesta, com apenas 4 empresas expositoras em 2008. Nas edições seguintes o número de expositores aumentou exponencialmente e muito rapidamente. A forte participação da ITV Portuguesa na ISPO Munich deve-se ao esforço conjunto da Associação Selectiva Moda com o Citeve, que organizaram as ilhas coletivas From Portugal entre 2008 e 2023.
Quando as empresas portuguesas começaram a apostar na área do desporto, Portugal não tinha grande visibilidade na feira, mas hoje em dia a presença portuguesa já não passa despercebida e isso deve-se especialmente à boa dimensão das ilhas ‘FROM PORTUGAL’ que ocupam este ano um total de 330m2. Uma presença coletiva, além de conseguir maior visibilidade, também fortalece a credibilidade das empresas e ainda facilita a organização da participação.
Este ano, como é habitual, contamos novamente com duas ilhas ‘From Portugal’ e vários expositores individuais sobretudo de materiais, acessórios, moda e calçado desportivo. Agradeço à ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal por não deixar morrer o projeto dos stands coletivos na ISPO Munich 2024, após o fecho da Selectiva Moda. A continuidade da presença portuguesa na ISPO Munich tem fortalecido o poder negocial junta da organização em Munique, para se obter localizações com boa visibilidade.
Um futuro bem-sucedido no caminho da internacionalização de uma empresa passa necessariamente pela presença em feiras internacionais – mas claro que sou suspeita (risos). Estou convencida de que uma feira é a única possibilidade de, em apenas alguns dias, estabelecer contactos comerciais com centenas de clientes, provenientes de todo o mundo. É preciso encontrar a plataforma certa – como é o caso da ISPO Munich para a indústria desportiva que conta com visitantes de mais de 110 países!
A organização da ISPO está a vincar a ideia que “sem soluções sustentáveis a indústria desportiva não tem futuro”. As empresas nacionais estão a fazer esse investimento em sustentabilidade?
Soluções sustentáveis não são nenhuma novidade para as empresas portuguesas, que há muito apostam em materiais reciclados, em certificações ambientais e em processos de produção com poupança de recursos. De alguns anos para cá a indústria tem investido em tecnologias de produção que reduzem o consumo de água, energia e de utilização de produtos químicos. Com a pandemia, essa aposta foi ainda mais valorizada e notória com o claro aumento da procura pelos produtos sustentáveis portugueses na ISPO Munich 2022! Estou certa de que, a médio prazo, esta aposta da indústria têxtil portuguesa em soluções ecológicas será uma aposta ganha.
Na ISPO Munich 2024, Portugal terá o seu próprio showcase de sustentabilidade: o Citeve levará pela quarta vez o ‘iTechStyle Green Circle’ para Munique. É um espaço de 40m2 que mostra a excelência dos produtos têxteis portugueses ao nível da sustentabilidade e da economia circular. O showcase tem sobressaído pelo seu design apelativo, o que ajuda a posicionar Portugal como destino preferencial para marcas desportivas que procuram uma cadeia de fornecimento sustentável. O iTechStyle Green Circle fica no pavilhão A3 da ISPO Munich, mesmo ao lado da ilha ‘From Portugal – Sustainable Textile & Apparel’, organizado pela Associação ATP.
O desporto já vive para a responsabilidade social também?
Sim, o desporto tem, sem dúvida, avançado no sentido da responsabilidade social, promovendo inclusão e igualdade. Muitas organizações desportivas estão a utilizar as suas plataformas para apoiar causas sociais, o que é um passo significativo.
Ao longo dos anos, a ISPO Munich tem procurado sensibilizar os seus expositores e visitantes para as suas responsabilidades a nível social. Nas candidaturas ao concurso ISPO Award é, a exemplo disso, valorizada a ética na produção de artigos desportivos. Os expositores são incentivados a garantir condições de trabalho justas nas suas cadeias de produção.
Outro exemplo é o ISPO Cup, que foi criado há 53 anos, mas desde 2022, passou a premiar não só inovações no desporto como também iniciativas que tenham um impacto positivo na sociedade.
Como tem evoluído a feira de acordo com as tendências e oscilações do mercado? Que novos espaços e dinâmicas realça?
A ISPO é conhecida por estar à frente do seu tempo, por antecipar, acompanhar e mesmo influenciar as novas tendências. Em 2024, o foco é a ligação entre desporto e saúde. Notamos, especialmente após a pandemia, um movimento global de procura por um estilo de vida saudável, física, mental e socialmente. Este ano, dois novos eventos ganham destaque: o German Trainers Summit e o therapie München, ambos dedicados à ciência do desporto, nutrição e reabilitação.
Deixo a nota que que todos esses espaços podem ser visitados com um único bilhete, que dá acesso aos 11 pavilhões da feira.
Têm realçado no vosso site que “o vestuário desportivo é a tendência mais consistente dos últimos 100 anos”. Significa que as empresas deste segmento devem reforçar a sua aposta na feira e na inovação?
Não é por acaso que a ISPO Munich surgiu no ano de 1970 e que iremos festejar o 54º aniversário da feira este ano! O vestuário desportivo é sem dúvida uma das tendências mais consistentes ao longo do último século. Lembramo-nos do boom de atividades desportivas do início dos anos 20, como o ténis e a natação, após a segunda-guerra. Nos anos 60 veio a moda do jogging e depois o fitness nos anos 80, sempre a necessitar roupas mais funcionais e mais leves. As roupas desportivas são atualmente aceites fora do ginásio – a pandemia deu um impulso muito grande nesta tendência que anteriormente referi, a “athleisure”.
Portugal tem estado na vanguarda da tecnologia em termos de evolução dos materiais, como dos tecidos respiráveis e de secagem rápida, o que ajudou no grande sucesso do vestuário desportivo. Os dispositivos inteligentes, como relógios e monitores de atividade física, continuam a evoluir e o Centro Tecnológico CITEVE em Portugal é um grande impulsionador da ligação entre o vestuário e este tipo de tecnologia.
A ISPO Munich mostra como o desporto, a inovação e a saúde estão intimamente ligados e esta visão reflete-se em novas oportunidades para a indústria do desporto. Não vejo outra feira a acompanhar esta evolução e a mostrar como a colaboração entre estas áreas é crucial para o futuro. O vestuário desportivo tem tido, sem dúvida, uma evolução consistente, faz parte do dia-a-dia e define o futuro!